Os 80 anos da Assembleia de Deus em Santa Catarina: o pioneiro André Bernardino

André Bernardino da Silva fundou a Assembleia de Deus em Santa Catarina no dia 15 de março de 1931 na cidade portuária de Itajaí. Segundo as fontes disponíveis, organizou a AD ainda no mesmo ano em Blumenau, e em São Francisco do Sul. Em 1933 foi atuante na fundação das igreja de Guaramirim e Joinville. No dia 3 de janeiro de 1932, em visita a Itajaí, o missionário Gunnar Vingren separa Bernardino a pastor, mas faz a seguinte observação: "Não deveria consagrá-lo ao ministério. Você ainda tem muito pouco tempo de conversão e é solteiro, mas devido a falta de obreiros vou separá-lo para o pastorado". Por 12 anos, André Bernardino trabalha na fundação e na organização de igrejas da AD no estado catarinense. Ao ser entrevistado para a Revista do Jubileu de Ouro das Assembleias de Deus de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná, André afirma que seu substituto no trabalho foi o missionário Albert Widmer.

Numa primeira e superficial leitura dos registros históricos, fica a impressão de que Widmer foi o substituto natural de Bernardino, o qual após trabalhar mais de uma década em terras catarinenses se retira para outras searas. Mas algumas contradições na historiografia oficial e as memórias de quem conviveu com o pioneiro, indicam que Bernardino ao se despedir de SC, já há muito tempo havia sido suplantado por Albert Widmer na liderança da AD catarinense.

Não se sabe exatamente o ano em que Albert Widmer chegou à Santa Catarina, mas se observa que não muito depois da fundação das primeiras igrejas ele já estava atuando. Em suas memórias, Daniel Graudin da Silva (filho de André Bernardino), relata que Widmer não pertencia a AD e sim a outro ministério pentecostal. Seu pai teria o convidado para ingressar na AD e logo depois, Widmer teria suplantado seu pai na liderança do trabalho.

A versão do filho de Bernardino contradiz a historiografia oficial, quando se observa que Widmer já colaborava com o Mensageiro da Paz no ano de 1935 com traduções de artigos; indicando assim sua filiação à denominação. Mas registros comprovam que Widmer separou ainda no início da década obreiros ao diaconato e ao presbitério em Blumenau, comprovando que o suíço já liderava a AD nessa época. Também diverge muito a versão apresentada pelo familiar de André sobre a saída de Albert do Brasil. Segundo a historiografia oficial, o missionário teria entregado o trabalho a J. P. Kolenda por problemas financeiros gerados pela eclosão da Segunda Guerra Mundial. Widmer era sustentado por ofertas vindas de igrejas da Inglaterra. Na versão apresentada por Daniel da Silva, o suíço teria saído por motivos menos nobres.

Para quem esta acostumado com a historiografia oficial da AD, a versão da família de Bernardino soa um tanto estranha se comparada com as informações conhecidas e divulgadas há tantos anos pela denominação. Mas não é novidade, que muitos escândalos e cismas nos ministérios da AD, são camuflados e revestidos de uma linguagem e escrita heroica, visando sempre a edificação dos fiéis.

O fato é que ao deixar Santa Catarina, Bernadino não era mais líder há muito tempo do trabalho pentecostal no Estado. Também é certo, que ao sair, André já não estava mais em comunhão com a igreja, e assim permaneceu por muitos anos, pois no ano de sua saída (1943), foi publicada uma declaração assinada pelos principais líderes da AD em SC, informando que o pioneiro havia sido desligado do ministério das AD. Ou seja, o pioneiro não foi substituído por Widmer e sim suplantado por ele na liderança, e ao deixar o Estado já estava fora da denominação que fundou anos antes. Talvez por esses motivos, a literatura oficial da CPAD considera J. P. Kolenda o primeiro líder oficial da AD em terras catarinenses.

Ainda, segundo as fontes disponíveis, Bernardino fundou várias igrejas no interior de São Paulo, e na década de 1960 encontrava-se em Brasília (DF). Na nova capital, André participa de uma polêmica divisão em uma congregação da AD do ministério de madureira. Um grupo de obreiros queria colocá-lo como líder substituto do pastor local do qual discordavam. Bernardino, juntamente com o grupo descontente é desligado da comunhão da igreja e meses depois passa a congregar na AD ligada ao ministério de São Cristóvão (RJ).

No fim de sua vida, volta para o estado do Rio de Janeiro, vindo a falecer no dia 8 de agosto de 1992 na cidade de Macaé.

Obras consultadas:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

MAFRA, Carlos. Capítulos que movem nossas vidas. Blumenau: Nova Letra, 2009.

SANTOS, Ismael. Raízes da nossa fé: A história das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus em Santa Catarina e no Sudoeste do Paraná. Blumenau: Letra Viva, 1996.

TÉRCIO, Jason. Os Escolhidos - a saga dos evangélicos em Brasília. Brasília: Coronário, 1997.

Revista do Jubileu de Ouro das Assembleia de Deus  em Santa Catarina e Sudoeste do Paraná (1981)

Entrevista concedida por Daniel Graudin da Silva no dia 10 de setembro de 2008.

Comentários

  1. A paz do Senhor, irmão Mario Sérgio!

    Nossa...o teu blog é muito interessante. Confesso que desconheço em muito a história da AD (em especial estas controversas históricas como a abordada neste artigo). Espero aprender muito com o irmão.

    Que Deus continue abençoando este blog ( e claro, a ti e tua família)! Um grande abraço, em Cristo!

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  2. Meu caro irmão Nilton Rodolfo!

    Agradeço sua visita ao blog. Minha intenção a cada postagem, é trazer informações que despertem o desejo de vários assembleianos e evangélicos em geral, em aprofundar seus conhecimentos históricos.

    Deus lhe abençoe!

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  3. Olha, pesquisando sobre Albert Widmer, descobri o seguinte link:http://divinebetrayal.com/2009/01/17/pedophelia/, onde o missionário Albert Widmer é acusado de pedofilia...
    Leiam e comentem

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  4. Olá quando se iniciou a primeira igreja no sudoeste do Paraná,e porquê Santa Catarina entrou no Paraná...

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