AD em São Paulo: Revolução e crescimento nos anos 30

Memórias das Assembleias de Deus compartilha uma foto rara do arquivo pessoal do irmão Sigisberto Machado. Reunidos em frente ao antigo templo, vários irmãos e obreiros da Assembleia de Deus da cidade de São Paulo possam para o registro fotográfico. Sentados a frente, o então pastor da igreja, o missionário sueco Samuel Hedlund e esposa Tora Hedlund, e o também missionário, músico, maestro e compositor Jahn Sörheim. O local? Provavelmente na rua Villela ou na Cruz Branca, antigos endereços da igreja.

O registro deve ter sido feito entre os anos de 1932 a 1935, período que Hedlund dirigiu o trabalho na capital paulista. Sörheim também cooperou nessa igreja, e hoje a banda de música da AD no Belenzinho leva seu nome em homenagem ao missionário.

Não deve ter sido fácil para o casal Hedlund ter dirigido a AD em São Paulo nesse período, pois na condição de estrangeiro presenciou um momento político conturbado na história do país. No dia 9 de julho de 1932, teve início a Revolução Constitucionalista, movimento que se opunha ao governo de Getúlio Vargas. A revolta era uma tentativa de resgatar o poder político do estado de São Paulo perdido na Revolução de 1930. Durante 3 meses os paulistas lutaram, mas isolados e numericamente inferiores, foram derrotados após batalhas sangrentas, e no dia 2 de outubro o conflito teve seu término.

Membros da AD na década de 30: tempo de um trabalho único da capital
Logo após o sangrento conflito, Sylvio Brito, em visita a cidade e futuro colaborador da AD paulista, assim relata ao Mensageiro da Paz (2ª quinzena de 1933): "A vitória! Aleluia! Quem não deseja vencer? Naturalmente, todos nós. Entretanto, nem todos vencem; qual a razão? perderam a visão do Vencedor - de nosso Senhor Jesus Cristo".

Seria uma referência ao conturbado momento político em que o país vivia? Provavelmente sim. Os paulistas, mesmo derrotados se sentiam vitoriosos moralmente, pois Vargas após o conflito reviu sua política, convocou eleições para uma Assembleia Constituinte e promulgou uma nova Constituição. Mas mesmo assim, ainda predominava (e predominaria durante muito tempo) a força do governo de Getúlio. Então politicamente, dependendo do ponto de vista, seria difícil afirmar quem fora de fato o vencedor na queda de braço entre o governo federal e as forças paulistas.

Brito, porém, na continuação do artigo assim descreve e aproveita o momento político para espiritualizar o que viu em São Paulo:
Numa recente vista que fiz aos irmãos do Estado de S. Paulo, vi e participei das bençãos e vitórias que o Senhor Jesus Cristo tem concedido ao seu povo ali. O Estado de S. Paulo, que durante perto de três meses, esteve separado do resto do Brasil, está sendo, agora, visitado por Aquele que o profeta Isaías denomina - o Príncipe da Paz.
Foram 14 dias de visita, onde o jornalista observou os cultos evangelísticos em várias praças e ruas da cidade, e no templo com um número considerável de conversões. De forma incisiva, pede orações por Hedlund, pois observa "A seara é grande, mas os obreiros são poucos", e lança mão de vários versículos bíblicos que falam sobre o chamado e a necessidade de trabalhadores para a Obra de Deus.

Dificuldade política, e carência de obreiros diante de tantas oportunidades de evangelização e crescimento. Sylvio Brito assim descreveu o trabalho da AD paulista. Tempos depois, sairia ele do Rio de Janeiro e viria cooperar na capital de SP, se tornando o primeiro pastor brasileiro a dirigir o trabalho na cidade em substituição aos missionários suecos. Talvez imbuído do desejo de fazer mais, tomou uma decisão polêmica: deixou o pastorado da igreja e juntamente com seu cunhado Paulo Macalão, abriu uma congregação filiada a Madureira na cidade. Decisão essa que lhe custou o banimento da história na AD da Missão.

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

MENSAGEIRO DA PAZ. 2ª quinzena de janeiro de 1933. Rio de Janeiro: CPAD.



PS: Sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, vários livros e sites estão disponíveis. Porém, como o tempo é curto, foi aproveitado as ótimas informações e pontos de vista do link da revista Nova Escola.


Comentários

  1. É uma pena que o MP não faça referências diretas à eventos desta magnitude, que, sem dúvida influenciavam o dia-a-dia da Igreja, ainda que o discurso oficial afirmasse que o crente não deveria se misturar com os "negócios do mundo". No entanto, quer queira quer não, os "negócios do mundo" ajudaram a moldar o pensamento das lideranças de então. Haja vista o nacionalismo dos pastores presidentes como Macalão.

    ResponderExcluir
  2. A paz do Senhor.
    Onde posso conseguir as antigas edições do mensageiro da Paz?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)