Com muito amor - Marguerite Kolenda

John Peter Kolenda e sua esposa Marguerite trabalharam por muitos anos na obra pentecostal nos Estados Unidos, Brasil e na Alemanha pós-guerra. A família Kolenda chegou ao Brasil em 1939, e após passar pelo Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, estabeleceram-se no Estado de Santa Catarina.

Ao chegar em Santa Catarina, a Assembleia de Deus ainda era um trabalho incipiente. Kolenda, juntamente com outros missionários norte-americanos como Virgil Smith e Orlando Boyer, organizou a denominação no Estado, impulsionando a construção de templos e a evangelização. Para conseguir apoio financeiro dos EUA, JP enviava constantes relatórios com muitas fotografias e filmagens dos trabalhos realizados em terras catarinenses.

Porém, com o passar do tempo sua liderança foi sendo contestada pelos obreiros nacionais. Quando se observa a história das ADs, percebe-se que JP não sofreu somente oposição dos obreiros em nível nacional. No âmbito estadual, o veterano missionário também encontrou barreiras para seus projetos; principalmente o de fundar um instituto bíblico no Estado. Um dos elementos para as resistências era o sentimento nacionalista dos líderes catarinas.

Kolenda deixou o Brasil no início dos anos 50. Rumou para a Alemanha para um novo desafio: o de reerguer a obra pentecostal em um país ainda traumatizado pela 2ª Guerra Mundial. Muitos anos depois, já aposentado e residindo nos EUA, JP Kolenda veio a falecer no dia 19 de junho de 1984. 

Muitas foram às homenagens, e em gratidão sua esposa Marguerite (ou Margarida como era chamada no Brasil) enviou uma linda carta para a AD em Joinville, na época liderada pelo pastor Satyro Loureiro. Publicada no Jornal Informativo da AD, a missiva foi endereçada "Aos pastores em Santa Catarina e demais irmãos no Brasil".

Não deixa de ser uma ironia da história que, ao escrever a carta, a senhora Kolenda observa que seu esposo em sua morte foi homenageado e considerado como um verdadeiro "brasileiro". A coroa de flores e as mensagens de condolências foram para ela prova disso. Essa manifestação dos pastores catarinenses, muitos dos quais trabalharam com o missionário, foi talvez o derradeiro pedido de desculpas à família Kolenda. Assim escreveu Marguerite Kolenda:

Casal Kolenda: seis década de união e trabalho na obra
Nove pastores de Estado de Santa Catarina enviaram uma coroa muito bonita. Para mim foi tão preciosa, como foram as mitas cartas e cartões de condolências. 
Agora mais do que nunca, compreendo que meu esposo era realmente um "brasileiro". Quando li todas estas cartas e diversas expressões de apreço, pude sentir que os irmãos brasileiros verdadeiramente o consideravam como um deles. Queriam horá-lo pelo que realizou no Brasil.
Infelizmente, não tenho os endereços dos muitos remetentes de telegramas e coroas que tanto embelezaram o funeral do meu esposo
Estou morando num lar de velhos mantido pela igreja. Aqui temos muitos velhos como eu, com 88 anos, alguns mais jovens e outros mais velhos. Cada um tem um apartamento todo equipado e moderno. O atendimento é perfeito. Temos reuniões de oração. É um bom lugar para morar até Jesus vir.
Meu coração transbordou de gratidão a Deus por ter me concedido o privilégio de conviver com ele em santo matrimônio durante 61 anos e meio. Foi uma vida feliz e sei que o senhor está comigo e me guardará até que Ele me chame. 
Com muito amor
Marguerite 

Fontes:

ARAUJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

Jornal Informativo da Assembleia de Deus em Joinville. edição: 162 outubro de 1984.


POMMERENING, Claiton Ivan (Org). Entre flores e espinhos: o Espírito em movimento na Assembleia de Deus. Joinville: Refidim, 2013.

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