Os mitos e suas idiossincrasias

Alguns pastores assembleianos entraram para a história da denominação pela capacidade de administração e expansionismo dos seus ministérios. Tornaram-se mitos e referenciais de gerações de crentes pelo Brasil.

Conforme o sociólogo Gedeon Alencar, esses pioneiros, os quais ainda na juventude foram separados ao pastorado se eternizaram nos cargos e na liderança das igrejas. Permaneceram "entronizados em suas 'cadeiras papais' nos púlpitos, inquestionáveis em suas idiossincrasias*, reverenciados por seus seguidores." E de tal forma mitificados que, suas biografias tornaram-se verdadeiros panegíricos.

Mas, como destacou Marina Correia, o que importa nas narrativas oficiais é a "santidade ministerial". Segundo a autora da obra Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder, "os pastores são escolhidos por Deus, suas palavras são ungidas pelo Espírito Santo, começaram na obra de Deus com muito sacrifício", e nessa espinhosa caminhada "Deus preparou uma igreja santa" seguindo sempre um caminho santo e sem divergências. E quando ocorre alguma divisão "foi e será sempre por vontade de Deus" completa a conhecida estudiosa das ADs.

Nesse afã perde-se o lado humano e peculiar desses homens tão marcantes. Fica então a incógnita: como falavam, agiam ou se portavam diante de situações cotidianas ou de extrema pressão? Quais as lembranças da família e dos membros mais próximos?

Contudo, algumas obras (graças a Deus) por vezes deixam escapar traços e situações que humanizam os mitos e apóstolos da história assembleiana. Caso contrário teríamos a falsa impressão que esses senhores seriam mais santos que os reis, profetas e apóstolos da Bíblia.

Vejamos então alguns casos:

O jornalista Jason Tércio descreve o físico e estilo de liderança de Paulo Macalão:

Baixo, corpulento, era um dos principais líderes da Assembléia de Deus no Brasil, tendo expandido seu trabalho evangélico com proverbial rigidez. Obreiros de seu ministério que demonstrassem personalismo e um mínimo de independência eram severamente repreendidos, às vezes punidos com transferência para outra igreja ou simplesmente excluídos. Se ele não simpatizasse com alguém ou percebesse que o crente pretendia apenas usar sua influência, Macalão o neutralizava com um gesto simples, porém bastante eficaz - cumprimentava com as pontas dos dedos. 
Considerações do escritor Jacó Rodrigues Santiago sobre o pastor mineiro José Alves Pimentel:

José Alves Pimentel, foi um grande líder das Assembleias de Deus no Brasil. Homem íntegro, de muito respeito, severo às vezes, mas era também um pastor que tinha grande amor pelas suas ovelhas. Não era chegado ao luxo e as ostentações. Mas a simplicidade era a sua principal característica. 
A mesma boca que às vezes gritava até mesmo do meio da rua: "está excluído!", também proferia: "coitadinho do irmão, vamos ajudá-lo". Sempre entusiasmado com a obra de Deus, quando algo lhe chamava a atenção, logo exclamava: "Êta ferramenta!"
Sobre José Teixeira Rêgo é Isael de Araújo que nos informa:
A descrição que José Wellington faz hoje do seu primeiro pastor é a de um homem muito enérgico, radical e franco. Um tanto ríspido. Não usava meias palavras quando queria dizer a verdade para toda a igreja ou apenas um crente. Mesmo que fosse do púlpito e em qualquer culto. Se ele achava por bem, dizia tudo.

Segundo o dicionário é a constituição individual, em virtude da qual cada indivíduo sofre diferentemente os efeitos da mesma causa. Detalhe de conduta peculiar a um indivíduo determinado. Em suma: é o jeito de ser, os cacoetes e as "neuras" que carregamos.


Fonte:

ARAÚJO, Isael de. José Wellington: Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.


CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

SANTIAGO, Jacó Rodrigues. A Assembleia de Deus no Vale do Aço 1948-2008. Ipatinga: Gráfica Tibel, 2008.

TÉRCIO, Jason. Os Escolhidos - a saga dos evangélicos em Brasília. Brasília: Coronário, 1997.   

Comentários

  1. Pimentel era militar e converteu-se em 1928 na Assembléia de Deus em Belo Horizonte. Foi batizado com o Espirito Santo às duas horas da madrugada, quando com o fuzil na mão, estava de guarda no Palácio do Governo. Foi consagrado pastor aos 22 anos de idade, sendo o primeiro pastor assembleiano em terras mineiras. Era um homem de temperamento forte, bravo e autoritário, porém, muito simples e amoroso. Não gostava do luxo e não fazia acepção de pessoas. Do mesmo jeito que ele tratava os obreiros, os crentes recebiam o mesmo tratamento.

    ResponderExcluir
  2. Mário Sérgio mais um post sensacional. Parabéns! Você é fantástico em suas anotações. Abraço fraterno.

    ResponderExcluir
  3. Santos do queixo de cristal. Um dia tudo que está oculto será revelado e, então, saberemos quem é quem nesta história.

    ResponderExcluir
  4. Quero lhe sugerir entrevistar Paulo Leivas Brito Macalão, filho do Pr. Paulo Macalão, parece que ele mora no Rio de Janeiro.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)