Antônio Alves Carneiro - pioneiro em Brasília, dissidente em Anápolis

Antônio Alves Carneiro nasceu no interior de Minas Gerais, na cidade de Estrela do Sul em 1924. Católico e ex-seminarista, em 1948, através do primo Cristiano Alves Rodrigues (futuro pastor da AD) converteu-se ao evangelho. Ordenado pastor em 1950, trabalhou nas cidades de Olho d'Água, Catalão, Pires do Rio e Ipameri.

Brasília era apenas um sonho, quando no dia 19 de novembro de 1956, Carneiro e um grupo de pastores da AD de Madureira em Goiás visitaram o local. Havia tão somente "mata, cerrado e muito trabalho por realizar". Reunidos em círculo, os pioneiros oraram e informalmente iniciaram a AD na nova capital.

Ao visitar o acampamento da Novacap, onde peões trabalhavam freneticamente preparando o terreno para as futuras obras, receberam informações de que o governo doaria lotes na região: porém todas as construções deveriam ser feitas de madeira. Era o início da Cidade Bandeirantes ou Cidade Livre. Como observou Jason Tércio em seu livro Os Escolhidos "Brasília começava bem: tudo de graça e com a graça de Deus".

Impressionado com as promessas e as perspectivas de crescimento no planalto central, Carneiro "foi sendo cada vez mais atraído pela nova capital do país". Sentindo então o magnetismo da futura "Capital da Esperança", renunciou ao pastorado de Ipameri e resolveu iniciar a AD em Brasília. Morando em uma tenda de lona, evangelizava e realizava cultos ao ar livre com ajuda de alguns irmãos (inclusive presbiterianos) de outras localidades.

Pastor Carneiro: pioneiro em Brasília

Auxiliado por pastores assembleianos de Madureira que visitavam a região, mais algumas ofertas entre os poucos membros da nascente obra, aos poucos Carneiro foi levantando recursos para construção do primeiro templo na capital. "O presbítero Alípio da Silva, tesoureiro do templo-sede no Rio, também veio e deixou uma gorda verba" - destacou Tércio em seu livro.

Próximo a inauguração do templo, cartas foram enviadas convidando os principais pastores da AD para a inauguração: Alfredo Reikdal do Ipiranga, Cícero de Lima do Belenzinho e Joaquim Marcelino de Santo André e Paulo Macalão de Madureira. 

Talvez, por saberem que a jurisdição eclesiástica pertencia à Madureira, nenhum dos lideres convidados apareceu na inauguração, além de Macalão, no dia 15 de julho de 1957. Mas, para surpresa do líder carioca, Carneiro havia registrado o estatuto da igreja e se autonomeara presidente, ou seja, a congregação seria autônoma. Tudo que Macalão não queria. 

Findo o culto de inauguração, Macalão abordou Carneiro exigindo a transferência. O autonomeado pastor da AD em Brasília relutou. Argumentou que havia lutado muito naquela construção, mas reconhecia à dívida com Madureira. O impasse se formou, até que Macalão apelou para o sobrenatural. Contou a visão de uma irmã no Rio: um jovem pastor (Carneiro) indo para Anápolis, e um ancião (Antônio Moreira) seguindo para Brasília.

Impressionado com a profecia, Carneiro cedeu; não sem antes exigir de Macalão a autonomia da AD em Anápolis. Acertado o acordo, e com as bençãos divinas a troca foi realizada com êxito. No dia 17 de agosto, pouco mais de um mês depois da inauguração da igreja em Brasília, Carneiro assumiu a AD anapolina. 

Talvez, Macalão não esperasse que Carneiro iria levar tão a sério o desejo de autonomia. No final do ano de 1960, o jovem pastor de Anápolis resolveu romper com Madureira, levando consigo todo o patrimônio da igreja, deixando tão somente um remanescente fiel ao ministério carioca.

Pena que, na suposta visão, a irmã não previu a grande luta que se seguiria anos depois. Ao assegurar a congregação em Brasília, Macalão sem querer arrumou um enorme dor de cabeça e futuramente perderia uma promissora igreja. Carneiro, se tornaria (para Madureira) um "lobo"...

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

TÉRCIO, Jason. Os Escolhidos - a saga dos evangélicos em Brasília. Brasília: Coronário, 1997.

Comentários

  1. Histórias assim são comuns na Assembleia de Deus! Nestes mais de 100 anos, vemos relatos de pastores e obreiros que deram suas vidas em prol do pastorado. Parabéns nobre amigo Mário Sérgio, teu blog tem contribuído de uma forma espetacular para a divulgação de relatos interessantes, que fazem parte da nossa denominação.

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  2. Verdade omitidas, Macalão provou de sua própria semente. Me entenda não dou riso pelo acontecido , mas o rompimento de Macalão se deu de igual teor.

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