A rebelião feminina em Piedade (RJ)

Muitas histórias são contadas nas Assembleias de Deus (AD). Algumas heroicas e outras dramáticas. Há memórias tristes de divisões, disputas de poder e jogo de interesses. Mas, também existem narrativas de pioneirismo, sacrifícios e amor à obra de Deus.

Entre tantas histórias, algumas são celebradas e outras esquecidas. Isso faz parte da construção da escrita memorialística: a seleção, edição, interpretação e o uso político dos fatos. É assim na história política e na eclesiástica também.

Nesta postagem, relembraremos um caso inusitado dentro da histórias das ADs. Um episódio que, obviamente, jamais ficaria registrado na história "oficial" da denominação, a qual, diga-se de passagem, deve sempre estar voltada para a edificação dos santos.

No mês de outubro de 1958, a congregação da AD em Piedade no Rio de Janeiro virou notícia no jornal Correio da Manhã (RJ). Sim, por meio de um periódico secular, os habitantes da cidade do Rio ficaram sabendo de uma inusitada "rebelião" das irmãs da igreja no bairro da zona norte carioca.

Segundo a reportagem, os fiéis da igreja reuniam-se no templo e o "culto desenvolvia-se sem novidades" com os hinos e orações costumeiras. A pregação da noite ficou sob a responsabilidade do pastor local, Antônio de Oliveira.

Ao que tudo indica, a reunião teria terminado dentro da normalidade, até que no fim da mensagem, o pastor Oliveira abordou o tema "O uso de adornos e a vaidade feminina". Usando tom "agressivo", exortava o obreiro às irmãs a "deixarem de usar joias".

Conforme desenvolvia sua prédica, a irritação do público feminino aumentava. No auge da pregação, as assembleianas resolveram atender aos insistentes apelos do pastor. Mas não exatamente da forma como ele desejava: "não mais resistindo aos ataques, começaram a retirar os adornos, e em seguida à atirá-lo no seu guia espiritual".

Surpreendido pela fúria das irmãs, o corajoso obreiro "defendia-se de qualquer maneira, até que, esgotado o estoque de joias, foi executado novo ataque, agora por intermédio de bíblias e outros objetos ao alcance de suas agressoras" - relatou o Correio. A revolta só terminou com a intervenção policial e de populares.



Geralmente, um jornal só registra o fato, mas não dá o seu contexto. É provável, que em outras oportunidades, o nobre pastor tenha exortado daquela forma. Pode ter ocorrido (como acontece muito ainda nas ADs), que o distanciamento cultural e teológico do líder e dos fiéis sobre o tema (e outros assuntos) tenha se aprofundado.

A igreja gradativamente tornou-se uma "panela de pressão" e explodiu. As consequências foram as piores possíveis para a imagem da denominação. Foi um escândalo na visão dos assembleianos mais antigos. Mas a quebra do mito da passividade das mulheres crentes diante da rígida imposição dos usos e costumes de santidade também foi abalada.

É interessante notar a postura da igreja. Em 1958, pelo que se sabe, as ADs ainda eram marcadas pela rigidez da "doutrina". Estaria a AD em Piedade fora dos padrões assembleianos da época e uma precursora das ADs atuais?

Quantas situações como essa ocorreram e ainda acontecem dentro da denominação? Quantos obreiros ainda conservam suas mensagens, administração e interesses totalmente divorciados das igreja que lideram?

Fonte:

Acervo digital da Biblioteca Nacional - Correio da Manhã, quinta-feira, 16 de outubro de 1958.

Comentários

  1. É de se estranhar este fato ocorrido em 1958, numa época em que as igrejas AD eram constituídas de pessoas humildes e sem cultura e talvez por causa disso, alguns líderes se sentiam mais à vontade para impor suas normas rígidas, em nome da "boa doutrina". Ainda mais sendo no Rio de Janeiro, onde até pouco tempo se dizia que as AD eram mais "avançadas"...

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  2. Essa é umas das razões porque o texto biblico respeito a salvação da graça de Deus ,escreveu Paulo ,Pela graça sois salvos e isto não vem de bois e dom de Deus , nao vem das obras para que ninguém se glorie , livro de Tito ..a graça de Deus há manifestado ,trazendo salvação a todos os homens . a oração, as obras ,os bons costumes ,o jejum ,a consagração, os dons , os milagres , as bênçãos espirituais ou materiais , etc nao são suficientes para salvar ninguém, embora sejam subsídios que encentivam a fé em Cristo para salvação ,mas que salva e Cristo pela sua imensurável e amorosa graça, oferecida e consumada lá na cruz redentora do Salvador Jesus Cristo , independentemente desses subsídios acima ,so Jesus tem poderdesalvar a quem ele quer por sua soberanias e poder. .Pr Josinaldo j Silva .paz seja com todos s que leem essa singela opinião extraída das santas sagrada escrituras. amem.

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