O debate sobre os ministérios em 1941

Qualquer pessoa, que tenha o mínimo de conhecimento sobre as Assembleias de Deus no Brasil, sabe o quanto a denominação é divida em Ministérios e Convenções. Essa fragmentação não é recente, pois desde a década de 1930 do século passado, as ADs vivem tensões provenientes desse modelo de administração e crescimento.

Porém, houve momentos em sua história que esse sistema foi questionado. Na CGADB de 1941, realizada na cidade do Rio de Janeiro, o missionário sueco Otto Nelson propôs "que deixassem de existir vários ministérios das Assembleias de Deus em uma única cidade". Argumentou o pioneiro, que tal medida fortaleceria a unidade e evitaria "lutas". Uma só grande igreja seria mais influente do que várias menores espalhadas pelas cidades.

Macalão: contra um só ministério nas cidades
Aproveitando a oportunidade, Gustavo Nordlund da AD em Porto Alegre, contou sua experiência na Suécia, onde pequenas igrejas estavam em torno da igreja sede e problemas surgiram. Segundo Nordlund, por seu conselho, o pastor local dissolveu as igrejas menores trazendo assim a paz eclesiástica.

Mal o líder de Porto Alegre terminou de falar, Paulo Leivas Macalão contrariou o ponto de vista dos suecos. Para o pastor de Madureira era um "perigo" ter uma só igreja dominando as outras nas cidades, pois as pequenas congregações ficariam sob uma "organização rígida".

Óbvio que Macalão falava em causa própria. Em 1938, ele e seu cunhado Sylvio Brito abriram uma filial de Madureira em São Paulo, onde já havia uma congregação pioneira desde 1927. A proposta era totalmente contra seus interesses.

É provável que à referência as "lutas", seja o caso da abertura da congregação do Brás. Algo tão traumático, que Brito teve seu nome apagado da história da igreja da Missão da qual foi pastor. Os problemas de transferências de membros e obreiros de um ministério para outro também era foco permanente de tensões.

E para ironia da história, o próprio Macalão colocou as suas igrejas filiadas sob uma "organização rígida" ao criar em 1958 a Convenção Nacional de Madureira e elaborar o Estatuto Padrão, instrumento jurídico que assegurava a unidade do ministério em todo o país.

Já se passaram sete décadas da discussão levantada por Otto Nelson e as ADs cresceram muito. Fragmentaram-se ainda mais em ministérios e convenções. Se em alguns locais a convivência entre as igrejas atualmente é pacífica, em outros é de total beligerância.

O caso mais conhecido é da AD em Pernambuco. A rivalidade entre os dois ministérios é enorme. Até termos pejorativos são usados nessa batalha. Exemplo: os assembleianos ligados a AD no Recife ironicamente chamam o ministério rival de Abreu e Lima de "Abreu e Lama"...

Fontes:

COSTA, Jeferson Magno, Paulo Macalão - a chamada que Deus confirmou, Rio de janeiro, CPAD, 1983. 

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

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