Assembleias de Deus – televisão e o reality culto
Implantada no Brasil em 1950, por obra do polêmico empresário e jornalista Assis Chateaubriand, a televisão foi anunciada como "o mais subversivo de todos os veículos de comunicação do século" – detalhou o escritor Fernando Morais, biógrafo do antigo dono dos Diários Associados.
Assim como o rádio, a televisão sofreu rejeição por muito tempo dentro das ADs no Brasil. No Dicionário do Movimento Pentecostal, há o registro sobre os primeiros debates sobre à nova mídia na CGADB de 1957. É possível que muitas das argumentações para o uso da TV na evangelização, assim como no caso do rádio e dos institutos bíblicos, estivessem a cargo dos missionários norte-americanos.
A entrevista do missionário Nels Lawrence Olson, na revista A Seara (edição maio/junho de 1957), meses antes da Convenção Geral realizada em Belo Horizonte é indicativo disso. "Devemos estar com as vistas voltadas para a televisão que rapidamente vem substituindo o rádio como meio de difusão" – declarou o pioneiro dos programas radiofônicos nas ADs.
Mas, não era essa a visão da maioria dos líderes. Durante décadas a TV foi denunciada, rejeitada e condenada como instrumento do mal. O Mensageiro da Paz publicava na década de 1960, uma paródia do Salmo 23. Era o Canal 23, com a seguinte mensagem: "O Televisor é meu pastor meu crescimento espiritual faltará". O pastor Francisco de Assis Gomes criou até o termo "televisiolatria" para alertar sobre os (des) encantos do aparelho e suas programações.
Gradualmente, porém, as ADs absorveram a tão criticada mídia. Não de maneira uniforme é claro. Silas Malafaia, em 1981, no Rio de Janeiro iniciava o programa "Renascer". Em 1982, a AD em Belém (PA) transmitia o "Boas Novas no Lar". Contudo, a resistência à TV ainda era severa nas igrejas. Disciplinas e exclusões eram rotineiras por causa dela. E assim permaneceu durante muito tempo.
Mas a inserção dos assembleianos na TV gerou paralelamente adaptações, principalmente à linguagem televisiva. Segundo Ciro Marcondes Filho, o "espetáculo é a linguagem da televisão – a única lógica possível à TV". Seguindo esse raciocínio, nomes de programas como o "Show da Fé", "Vitória em Cristo" ou "Impacto" são utilizados estrategicamente para dar sentido de grandiosidade as programações.
Dentro da mesma lógica, a estética também começou a ser importante para os televangelistas. Afinal, beleza e boa aparência é (quase) tudo na TV. Silas Malafaia é um exemplo claro: tirou o bigode e fez implante capilar para rejuvenescimento da imagem. Claudio Duarte seguiu o mesmo caminho. Samuel Ferreira fez cirurgia bariátrica e também ficou mais palatável aos telespectadores (não esquecendo possíveis questões de saúde no procedimento).
Nessa linha, os cultos transformaram-se em celebrações midiáticas da fé. As câmeras buscam as emoções do fiéis o tempo todo. Lágrimas, exclamações de louvor e gesticulações devem ser explorados ao máximo. Não é somente um culto, é uma transmissão televisiva e como tal é necessário ter estética e linguagem apropriadas. Atrair ao público que está em casa é fundamental.
Fica a pergunta: o que é espontâneo ou superficial nos cânticos, pregações e orações quando as câmeras estão focadas no público? Muitas vezes ele se vê no enorme telão e sabe que tudo irá para a telinha. Quem não gosta de ficar bem na imagem reproduzida no espelho ou tela? Estariam os crentes sentido-se num verdadeiro reality culto?
Outro ponto importante: os altos custos com os programas de televisão atualmente justificam as mais esdrúxulas formas de arrecadações de fundos. Pode-se afirmar, que o uso da mídia televisiva abriu as portas para a teologia da prosperidade nas ADs. Realmente a TV foi subversiva...
Fontes:
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
FILHO, Ciro Marcondes. Televisão, a vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1988.
MORAIS, Fernando. Chatô: o rei do Brasil. A vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
http://piaui.folha.uol.com.br/materia/vitoria-em-cristo/
http://istoe.com.br/138157_UM+PASTOR+MODERNO+ENTRE+OS+RADICAIS/
Como sempre, televisão não foge a mão dupla que trilham outros meios de comunicação, positivo e negativo, apesar que enxergo mas positivo que negativo. Infelizmente, com tantos dinheiros arrecadados por convenções e casa publicadora (150 milhões/ano, essa última), chegamos ao centenário sem um canal aberto de televisão! Espero que a liderança discuta o assunto e trabalhe nessa prioridade.
ResponderExcluirO Pastor Samuel Câmara, fundou um canal de tv, na sua sede! Assisti alguns programas, muito bons!! Agora ele aluga para outras igrejas. O que impede o crescimento de um canal de tv assembleiano é a enorme divisão que existe.
ExcluirNão resisti perguntar: Como ficam os que foram disciplinados? Era pecado ou não? E os obreiros que não foram consagrados por causa da TV?
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