Ensino Teológico nas ADs – conflito e superação

No dia 21 de julho de 2017, defendeu a dissertação de mestrado intitulada Da objeção ao reconhecimento: conflito e superação na constituição da Educação Teológica formal nas Assembleias de Deus no Brasil – Faculdade EST/São Leopoldo (RS), o pastor Orlando Martins. Nela, o pesquisador revisita a história dos embates entre as lideranças nas questões da instrução teológica nas ADs.

Para alguns, essa problemática pode estar superada, mas Orlando destaca que, mesmo com a abertura das ADs ao conhecimento teológico formal, ainda "dentro de seus arraias eclesiásticos" há resistências, "principalmente por aqueles que advogam mais a favor da importância da Experiência Religiosa do que a favor da Educação Teológica"   afirma o jovem pastor e teólogo.

Para embasar suas considerações, Martins fez amplo levantamento documental e bibliográfico, os quais "comprovam o conflito que houve entre a missão sueca, contrária a fundação de institutos bíblicos  e a missão americana, que apoiava a fundação destes institutos".




Embates que duraram décadas, mas ainda não superados, pois eles aparecem nas escolhas e práticas dos obreiros assembleianos na atualidade. Martins destaca na dissertação uma entrevista do pastor Antônio Gilberto, teólogo e consultor doutrinário da CPAD, onde ele reclama da falta de apoio, disposição e patrocínio dos líderes aos ensinadores pentecostais.

Partindo de um respeitado mestre assembleiano, Orlando afirma que o "relato do pastor Antônio Gilberto retrata a falta de incentivo à Educação Cristã". Não só isso. Fica em evidência nas ordenações ao ministério a preferência ao preletor que "se destaca mais por envolver a Igreja com sua oratória, do que por apresentar um sermão com profundidade bíblica,  o que para muitos, "dá sono", ou seja, não gera espiritualidade."

A realidade, segundo o estudioso, é que "apesar de hoje haver um grande incentivo para que os obreiros estudem Teologia, e de ser um dos pré-requisitos para a ordenação de um obreiro, ainda falta muito apoio não somente dos pastores, mas da comunidade de modo geral."

Membro e pastor auxiliar da Assembleia de Deus Mais de Cristo (ADMC) em Florianópolis, Orlando Martins é Coordenador dos Cursos Teológicos da igreja fundada pelo pastor Júnior Batista em 2007, portanto, tem vasta experiência na área e conhecimentos significativos para defesa da dissertação.

A ADMC, apresenta-se como herdeira do chamado "Pentecostalismo Clássico", mas sem a ênfase nos usos e costumes. Nas questões educacionais, a igreja tem "identificação com as ADs, e com o chamado modelo americano, pois valorizam a Educação Teológica Formal."

O trabalho acadêmico do escritor e jornalista Orlando Martins, só comprova o quanto as chamadas "temporalidades históricas" estão presentes nas ADs. Ou seja, em pleno século XXI, com tantas transformações estéticas e tecnológicas dentro da denominação, a antiga mentalidade sobre o estudo teológico ainda resiste. É a herança sueca, o legado que ainda persiste.

Comentários

  1. Concordo com tudo, menos com a última frase. Não creio ser culpa dos suecos o desprezo pela teologia. Nem Berg, que não era teólogo, é mais influente que Vingren, que o era. É mais um aspecto caudilhesco de nossa segunda geração, pastores locais, que priorizavam as manifestações espontâneas e menos formais.

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  2. Claudesnilton Alcantara19 de julho de 2017 às 04:58

    Não concordo que seja uma herança sueca. Creio que seja mais uma questão cultural brasileira que adentrou nas ADs quando os brasileiros assumiram a liderança e desprezaram os pais suecos. Começaram a ordenar Pastores e presbíteros com o intuito máximo de abrir e cuidar de igrejas, eis um dos grandes motivos pelo qual as ADs tanto crescem (ou cresceram) no Brasil.
    E com a onda dos milagres e shows da fé e os cachês polpudos a pregadores que atinjam o emocional das ovelhas, muito menos se estuda teologia. Em voga agora estão a oratória.

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  3. Concordo plenamente com deladier lima

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  4. Caro amigo e irmão Orlando. Parabenizo-o pelo seu trabalho e conclusão de curso. De fato, os suecos foram contra o ensino teológico formal. A razão disso é que na época do avivamento do início do século passado, as denominações históricas estavam vivendo um grande conflito interno. Jovens americanos que iam estudar teologia na Alemanha, voltavam liberais e isso trouxe grande preocupação aos pastores. As denominações históricas reagiram. Dos movimentos reacionários, emergem o fundamentalismo e também o pentecostalismo. O trauma do liberalismo teológico levou parte dos crentes a buscarem o entendimento das Escrituras na oração e não nos seminários. Os seminários foram demonizados. Esse preconceito se espalhou pelos EUA e Europa. Os suecos (Samuel Nistron, Nels Nelson, Nils Castberg, e como visitante, Levi Petrus e outros) realizavam escolas bíblicas para obreiros. A estrutura teológica pentecostal se alinha a partir dessas instruções. Os norte americanos, quando vieram para o Brasil já eram abertos à criação de instituições de ensino teológico, mas foram barrados por muitos anos. Até os anos 1980 o preconceito contra seminários ainda era grande. Eu mesmo sofri na pele as críticas entre os anos 1970 até meados de 1990 por ser professor e diretor de seminários. Fomos buscar instrução teológica nos seminários das denominações históricas. Hoje temos inúmeros seminários (muitos sem instalações adequadas, sem biblioteca e sem professores mestres e doutores). Estamos caminhando, mas ainda temos muito que evoluir para atingirmos um padrão ideal, mas, se Deus quiser, chegaremos lá.

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